Internet sob controle do tráfico: moradores denunciam ameaças em Niterói

A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga uma série de cortes de cabos de internet que deixaram parte de Várzea das Moças, em Niterói, sem conexão desde a noite de quinta-feira (4). Moradores e trabalhadores relatam que criminosos ligados ao Comando Vermelho estariam por trás da ação, intimidando técnicos e impondo o uso de um único provedor na região.

Cortes e intimidações

Segundo testemunhas, equipes da empresa Family Internet foram vistas realizando instalações entre 21h e 22h em diferentes pontos do bairro, incluindo a Avenida Plínio Gomes. Durante o trabalho, cabos de operadoras concorrentes — como Leste Telecom, Gigalink e Vivo — teriam sido propositalmente cortados.

No dia seguinte, moradores amanheceram sem serviço em diversos imóveis. Técnicos chamados para reparos afirmam ter sido abordados por mototaxistas e homens em carros não identificados, recebendo ameaças para abandonar os consertos. Em alguns casos, trabalhadores disseram ter sido coagidos sob risco de morte.

Há ainda denúncias de que o celular de um funcionário foi apreendido e que criminosos acessaram sua lista de contatos para repassar informações ao tráfico. Desde então, equipes relataram sofrer perseguições e ameaças constantes. Panfletos espalhados em casas e grupos de mensagens eletrônicas indicavam a Family como a “única” fornecedora autorizada a atuar no bairro. Os moradores reclamam de preços abusivos cobrados pelos planos.

Reincidência

A prática não é inédita. Em março, um veículo da Leste Telecom já havia sido alvo de vandalismo na mesma localidade, aumentando a suspeita de ação orquestrada para enfraquecer concorrentes e consolidar o monopólio criminoso sobre a prestação de internet.

O que dizem as empresas

A Leste Telecom confirmou ter registrado boletim de ocorrência e classificou a situação como “sabotagem sistemática contra empresas legalmente estabelecidas”. A companhia informou que recebeu dezenas de reclamações de clientes e ressaltou que as falhas não têm origem técnica, mas criminosa. O sinal foi restabelecido apenas no dia 9, após esforço conjunto das operadoras afetadas para reparar os cabos.

Gigalink e Vivo não se manifestaram até o fechamento desta reportagem.A reportagem também procurou a Family Internet e a Conexis (associação que representa as empresas de telecomunicações), mas não obteve retorno.

O que diz a polícia

De acordo com a Polícia Militar, denúncias foram registradas já na noite de quinta-feira (4), e equipes do 12º BPM (Niterói) foram acionadas. Técnicos ligados à Family foram conduzidos para a 81ª DP (Itaipu). O comando informou que reforçou o patrulhamento na região para evitar novos incidentes.

A investigação segue a cargo da 75ª DP (Rio do Ouro), que busca identificar os responsáveis pelos cortes e pelas intimidações.

Informações podem ser repassadas de forma anônima ao Disque Denúncia pelo telefone ou WhatsApp: (21) 2253-1177.