Violência às margens da Brasil: baleado é retirado de ambulância e morto por criminosos na Vila Kennedy
- Redação

- 13 de out.
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Um episódio brutal ocorrido há cerca de dois anos na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, escancara o poder das facções criminosas e o risco constante enfrentado por profissionais de saúde que atuam em áreas dominadas pelo tráfico. Um homem ferido com tiros de fuzil nas pernas, identificado como integrante do crime organizado, foi levado por comparsas à UPA da comunidade. Devido à gravidade dos ferimentos, a equipe médica decidiu transferi-lo de ambulância para um hospital próximo — mas o trajeto jamais foi concluído.
Segundo relatos de uma profissional que fazia parte da equipe de plantão, o veículo foi interceptado por criminosos fortemente armados em carros e motos. A equipe foi rendida e o paciente, retirado à força para ser executado. O episódio, que nunca foi oficialmente esclarecido, simboliza a escalada da violência que cerca as unidades de saúde localizadas nas margens da Avenida Brasil.
“É comum vermos homens armados circulando nas redondezas. Muitos pacientes chegam baleados e, assim que recebem o atendimento, tentam sair rápido, temendo represálias ou a prisão. Mas aquele estava em estado grave, e não houve tempo”, contou a médica, que pediu anonimato por segurança.
A UPA da Vila Kennedy integra um cenário de extrema vulnerabilidade. Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, a Avenida Brasil — com seus 58 km e mais de 70 favelas no entorno — registra em média um tiroteio a cada dois dias, número que supera a soma das ocorrências nas Linhas Vermelha e Amarela. Por ali passam diariamente mais de 200 mil veículos, e cada confronto impacta diretamente a rotina da população, dificultando o acesso a serviços essenciais.
“As dinâmicas de violência na região envolvem desde roubos de veículos até confrontos entre facções e ações policiais. Isso afeta a mobilidade, a Educação e, principalmente, a Saúde. A Vila Kennedy vive um conflito permanente entre o tráfico e as milícias, com índices alarmantes de violência armada”, explica Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado.
Os profissionais da unidade convivem com o medo constante. A tensão voltou a crescer recentemente, quando cerca de 50 pessoas ficaram presas no meio de um tiroteio provocado por uma invasão de milicianos em área dominada pelo Comando Vermelho.
Imagens obtidas pela reportagem mostram o desespero de quem estava na sala de espera da UPA no momento do confronto, na noite de uma terça-feira (7). Às 23h07, a primeira rajada de tiros ecoa. Pacientes e acompanhantes se jogam no chão, enquanto uma mãe se deita sobre o filho para protegê-lo das balas.
O episódio reforça o drama cotidiano de quem tenta salvar vidas em meio à guerra urbana que se impõe nas margens da Brasil.




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